15 de mar. de 2010

O Socialismo do Século XXI


O Sociólogo portugues, Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Boaventura de Souza Santos foi um dos palestrantes do Fórum Social Mundial em Canoas, um dos principais intelectuais do mundo na atualidade, seu livro mais conhecido no Brasil é Pela mão de Alice - o social e o político na pós-modernidade.


O Socialismo do Século XXI

Para o novo socialismo não há receitas, sabemos que o socialismo do século XXI será anti-estatista, anti-produtivista, não terá planificação central e sim participação cidadã. Olhem para estas características, é nas cidades como Canoas que estão os meios para se ir mais longe. É uma fórmula democrática e simples, mas é uma proposta que acaba com a corrupção. A solução que este continente encontrou foi nas cidades e não foi em São Paulo ou Rio de Janeiro, mas em Porto Alegre. Com a participação popular para construir o orçamento do município. Isso não significa destruir a democracia representativa, a democracia representativa é falsa apenas por que é pouca, não chega, queremos mais. Precisamos ir para além da democracia representativa, através da democracia participativa. É nas cidades que ela tem meios para se desenvolver e pode ir muito além do espaço político propriamente dito, pode ir para a produção, através da economia solidária e economia cooperativa, disputando a terceirização dos serviços públicos com os setores capitalistas privados.

As capacidades de imaginação são muito grandes e a imaginação democrática tem mais potencial nas pequenas e médias cidades onde vivem as camadas populares. Não nos subúrbios de luxo como Santa Mônica ou Santa Bárbara na Califórnia, EUA. Mas aqui em cidades como Canoas, dando voz à sociedade civil organizada e aos movimentos populares. O socialismo para mim hoje, seria essa democracia sem fim, em nossa casa, nas nossas fábricas nas nossas cidades. O saber técnico é importante, mas é preciso saber a ouvir o conhecimento popular, ouvir quem sofre com o problema, da enxurrada, da falta de asfalto. Isso é o que eu chamo de ecologia dos saberes, temos que caminhar para esse socialismo por meio de uma democracia de alta intensidade que nasce nessas cidades ou não nasce mais. E esta transição que falo do capitalismo para o socialismo passa por esta democracia, tendo o exercício democrático como uma outra maneira de pensar a economia, um socialismo de proximidade não depende de grandes transformações continentais ou transcontinentais depende da articulação do poder que está mais próximo, dando voz as camadas populares através desta radicalização da democracia.


Boaventura de Souza Santos

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